Edvaldo Corrêa
Entrevista exclusiva com arquiteto Benedito Abbud sobre biofilia
Um conceito que a cada dia ganha mais força no universo imobiliário é a biofilia, que se propõe a conectar o homem e a natureza no ambiente construído, visando a melhoria do bem-estar.
Para entender melhor o assunto, verificar como inserir este conceito nos projetos e citar as vantagens do uso da biofilia, entrevistamos o renomado arquiteto brasileiro Benedito Abbud, profissional reconhecido por suas obras sustentáveis e que aborda há décadas a biofilia como um pilar nos seus trabalhos.
Ele já desenvolveu mais de 5.200 projetos paisagísticos em todo Brasil e em outros países, como Argentina, Uruguai e Angola. Foram projetos em diferentes produtos e escalas, que vão desde cidades, bairros, parques, praças, condomínios verticais e horizontais, residências unifamiliares até empreendimentos corporativos e comerciais, hotéis e flats, loteamentos, habitações compactas, shoppings centers e áreas especiais.
Colunista Massa News: Sr. Benedito Abud, agradecemos por nos conceder esta entrevista sobre um tema tão relevante como a biofilia e o desenho biofílico na arquitetura. Para começar, poderia explicar brevemente estes conceitos?
Benedito Abbud: É um prazer falar para o Massa News. Entendo a biofilia muito além de uma tendência arquitetônica. Mas, como uma ideia de que os seres humanos possuem uma afinidade com a natureza. Esta proposta de conexão com elementos naturais é essencial para o nosso bem-estar psicológico e físico. Reforço que esta natureza não precisa ser selvagem, mas, amigável, humanizada. Que permita o contato com a flora e fauna de uma maneira natural. É fato que o uso indiscriminado de ferramentas tecnológicas, o stress do trabalho, entre outras questões que afligem a vida moderna exigem momentos de descompressão e relaxamento. É preciso uma volta à natureza. Quanto ao desenho biofílico, o objetivo é realizar espaços onde ocorra a biofilia.
Massa News: Como essa conexão com a natureza pode ser integrada ao projeto arquitetônico? Quais os princípios fundamentais e o papel do desenho biofílico nesse processo?
Abbud: A integração da biofilia no projeto arquitetônico envolve incorporar elementos naturais como luz natural, ventilação, vegetação, água, entrelaçando complexidade e simplicidade, de maneira consciente e harmoniosa nos espaços construídos. Quanto ao desenho biofílico, ele vai além ao explorar como podemos criar ambientes que não apenas imitam a natureza, mas que também estimulam nossos sentidos e promovem uma maior conexão.
Massa News: Como o desenho biofílico pode impactar a qualidade de vida das pessoas que vivem ou trabalham em espaços projetados dessa maneira?
Abbud: O desenho biofílico tem um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas, contribuindo para a redução do estresse, aumento da produtividade, concentração e melhoria do bem-estar geral. A conexão com a natureza promove um ambiente mais saudável e inspirador, favorecendo a criatividade, a concentração e o equilíbrio emocional. Temos exemplos como em UTIs onde são deixadas aberturas nos tetos para que os pacientes possam receber luz natural.
Massa News: Poderia citar alguns exemplos recentes de projetos que adotam esta filosofia?
Abbud: Claro. O Hotel Rosewood (Emerald Garden), que acabou de ganhar um prêmio de melhor hotel da América Latina pelo The World’s 50 Best Hotels. Neste projeto foram criados lounges de conexão abraçados pela natureza, totalmente naturais que criam encantamento aos usuários. Projeto fantástico onde, em plena área urbana, temos árvores, arbustos e animais diversos, totalmente integrados.
Também o Brascan Century Plaza, que é um local onde antes era uma fábrica de chocolate no Itaim Bibi, em São Paulo. Foi feito um projeto de uma praça de 10 mil m² para comemorar os 100 anos de atuação da empresa Brascan no Brasil. Lá foram plantadas aproximadamente 100 árvores de pau-brasil, pau-ferro e sibipiruna, além de serem colocadas esculturas de madeira. Hoje é um dos grandes atrativos do bairro pela ressignificação do ambiente, que tinha um nível de insegurança aos transeuntes. O local conta ainda com um complexo de cinema e uma praça de alimentação ao ar livre, com restaurantes dos mais variados.
Em Dourados, Mato Grosso do Sul, desenvolvemos um trabalho para a São Bento, com uma mostra dentro de uma universidade para ajudar a posicionar a marca de um produto imobiliário do cliente. O Hectares Park & Resort. A ideia foi criar um espaço instagramável, com muita área verde, tudo feito de forma muito rápida.
Massa News: Em sua experiência, como os clientes têm respondido à integração da biofilia em projetos arquitetônicos?
Abbud: Tenho observado um aumento da demanda por designs biofílicos nos últimos anos. Os clientes estão mais conscientes dos benefícios dessa abordagem, não apenas em termos estéticos, mas também em relação à saúde e bem-estar. A busca por espaços que proporcionem uma conexão mais profunda com a natureza tem sido uma tendência crescente em todo o mundo.
Massa News: Por fim, o que você acredita ser o futuro do desenho biofílico na arquitetura?
Abbud: Percebo que é uma parte essencial. À medida que a sociedade se torna mais consciente da importância da sustentabilidade e do bem-estar, a integração harmoniosa com a natureza será uma prioridade. Veremos ainda mais inovações na criação de ambientes que não apenas respeitam o meio ambiente, mas também nutrem o espírito humano.
Acreditamos que a arquitetura paisagística pode se adequar a qualquer “bolso”, agregando valor ao empreendimento, além de ajudar todas as pessoas a viver com dignidade. Entendemos que é preciso inovar para levar qualidade de vida a todos, respeitando sempre a natureza e o meio ambiente.
Massa News: Muito obrigado, Sr. Benedito Abud, por compartilhar seus insights valiosos sobre biofilia e desenho biofílico na arquitetura. Foi um prazer em conversar com o senhor.
Abbud: O prazer foi meu. Obrigado pela oportunidade.