MERCADO IMOBILIÁRIO EM 2026

O comprador de imóveis no centro: eficiência, previsibilidade e boas condições de negócios

Mesmo com juros elevados, o mercado imobiliário mostrou força em 2025. Para 2026, cautela, eficiência e previsibilidade guiam compradores e incorporadoras.

Imagem aérea de Londrina destacando o Lago Igapó e o mercado imobiliário na cidade.
Foto: Divulgação

2025 foi um ano de crescimento econômico moderado, mas trouxe uma mudança clara no comportamento do comprador de imóveis. O PIB deverá fechar entre 2,2% e 2,3%, mas com um mercado imobiliário surpreendentemente resiliente. Em um cenário de crédito “caro” e competição forte, ficou evidente quem estava preparado.

As empresas que acertaram produto, preço e condição de pagamento colheram bons resultados. Já quem errou esse equilíbrio sentiu na pele o custo do dinheiro e o peso da concorrência. Foram inúmeros os lançamentos de sucesso em todo o país.

O comportamento do comprador também deixou uma mensagem clara: hoje a decisão passa pela renda real e pela vida prática, não por desejos aspiracionais desconectados do orçamento. Em geral, o cliente está buscando unidades menores, plantas mais eficientes, menos desperdício de área, mais conectividade, bem-estar e funcionalidade. E, principalmente, parcelas que caibam no bolso com previsibilidade.

Indústria imobiliária: expectativas e alinhamentos

Conversei com Daniel Rosenthal, CEO da Taurus e sócio da EXX Gestão Exclusiva de Imóveis. Ele resume bem o espírito de 2025: mesmo em um ambiente desafiador, com alguns segmentos mais pressionados pelo crédito, os financiamentos continuaram acontecendo e o mercado reagiu melhor do que o esperado. Segundo ele, o setor tem buscado soluções e se ajustado rapidamente.

Produto certo e risco controlado definem o sucesso

Rosenthal reforça que não existe mais uma regra única. “O desempenho dos projetos está cada vez mais ligado à confiança, à leitura correta do mercado e à capacidade de adaptação dos players. A demanda segue elevada, o que sustenta novos lançamentos, desde que o produto esteja alinhado à nova realidade. Isso, porém, não elimina riscos e exige mais critério antes de lançar”.

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Ele é direto: “é melhor postergar, recalibrar ou até repensar um projeto do que correr o risco de ficar com estoque encalhado. Nesse contexto, não basta olhar apenas velocidade de venda. O foco precisa estar em rentabilidade e saúde financeira do empreendimento”.

Para 2026, Rosenthal aponta uma palavra-chave: cautela. É um ano com ruídos (eleições, Copa do Mundo, excesso de feriados e incertezas macroeconômicas), o que exige decisões mais conservadoras e bem fundamentadas. Não é momento de assumir risco desnecessário.

E ele fecha com um ponto que vale ouro: “não há mais espaço para atuação amadora, nem para copiar projetos anteriores. O sucesso passa pela excelência nas pontas do processo:

  • produto formatado com leitura real de mercado; e
  • atendimento e venda final com abordagem profissional, estruturada e centrada no cliente”.

Inflação e Selic: o que muda para quem compra em 2026

Para 2026, começa a se desenhar um cenário mais favorável para quem pretende financiar um imóvel. Duas variáveis importantes tendem a melhorar: inflação e taxa Selic.

Como a inflação impacta o orçamento das famílias

Com inflação menor, as famílias ganham previsibilidade de orçamento e conseguem se organizar melhor.

A projeção é de inflação em torno de 4,2% em 2026, abaixo da observada em 2025. Na prática, isso abre espaço no orçamento e dá mais segurança para planejar parcelas.

Por que a queda da Selic pode destravar decisões

Já a Selic influencia diretamente os juros do financiamento imobiliário. E a expectativa é de que ela inicie um movimento de queda nas primeiras reuniões do Copom em 2026, podendo terminar o ano próxima de 12%, abaixo do nível atual.

Isso tende a gerar três efeitos: crédito mais acessível, parcelas mais leves e maior competição entre os bancos. Mesmo pequenas reduções já destravam decisões que estavam represadas.

Negociação e poder de compra: onde estão as oportunidades

Conversei também com Bruno Oliveira, sócio-diretor da My Broker Curitiba, que trouxe uma leitura bem prática: a vontade de comprar continua alta.

“O principal freio hoje não é a demanda, mas a taxa de juros e o valor das parcelas, que precisam caber no orçamento. Ainda assim, ele acredita que o mercado deve seguir aquecido, com dinâmica parecida com a de 2025 e melhora gradual conforme as taxas recuarem”.

Oliveira também destaca que a negociação muda conforme o produto. “Incorporadoras com estoque, especialmente em ticket médio e alto, costumam oferecer mais margem para negociar preço e condições, porque o giro é menor. Já produtos compactos, por venderem mais rápido, têm menos espaço para desconto no preço. Quando há ajuste, normalmente é no fluxo de pagamento, não no valor final”.

Comprar agora ou esperar a queda dos juros?

Para o comprador, adquirir agora pode ser estratégico por dois motivos:

Primeiro, ainda existe um estoque maior, com mais opções, melhores localizações e mais espaço para negociar.

Segundo, existe a possibilidade de portabilidade no futuro: comprar hoje e, quando os juros caírem, migrar o financiamento para um banco com taxa melhor, sem perder a oportunidade do imóvel.

Oliveira alerta que “as incorporadoras tendem a flexibilizar condições, especialmente nos estoques. O crédito deve se diversificar e alguns segmentos podem vender mais devagar, aumentando o poder de negociação do comprador. O ganho nem sempre está no preço, mas no custo-benefício e nas condições de pagamento. E um ponto importante: quem espera demais pode pagar mais caro. Quando os juros caem, a demanda costuma acelerar e com mais procura, os preços tendem a subir”.

Eficiência e previsibilidade guiam o mercado

O ano de 2025 provou que o mercado imobiliário continua firme, mesmo com juros altos. O comprador passou a premiar eficiência e previsibilidade e a penalizar desperdício: de área, de parcela, de tempo e de promessa.

Para quem empreende, em 2026 o cenário poderá melhorar com inflação e juros em trajetória de queda. Mas isso não é convite para imprudência. Em um ano com ruídos, a vantagem competitiva será disciplina: projeto bem calibrado, risco controlado e decisão baseada em leitura real de mercado.

E para quem compra, a estratégia é simples: quem se posicionar antes da queda mais forte dos juros tenderá a encontrar mais ofertas, melhores condições e maior poder de negociação.