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Filhos e o novo namorado: como fazer a relação prosperar?

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Foto: Freepik

O nome já traz um peso cultural de coisa ruim: madrasta/padrasto — sempre falo que esse vínculo parental deveria ter outro nome. Infelizmente já eternizado pelas histórias infantis que fazem o “desserviço” de criar crenças de que a nova mulher do papai ou o novo namorado da mamãe pode lhe fazer mal. Pode, mas não necessariamente vai.

Aliado aos livros, temos as histórias reais que chocaram o Brasil nos últimos anos: Nardoni, Borel, Boldrini, vidas precocemente ceifadas por um vínculo familiar que não foi estabelecido adequadamente.

Sendo assim, sobram motivos para pais separados se pouparem de entrar em novas relações por medo de acontecimentos semelhantes. Porém, venho contestar e tentar de alguma forma neutralizar essa insegurança. Prefiro acreditar que casos como os citados acima são exceções e não regras. Padrastos e madrastas podem ter relações de muito afeto com seus enteados e contribuir para o desenvolvimento emocional dessas crianças.

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Mas então o que considerar para entrar em um novo relacionamento protegendo meu filho? Vamos por fases:

Pré-namoro:

  • VERDADE: Em primeiríssimo lugar jamais esconder a existência dos filhos. Eu disse jamais! Conheceu uma pessoa interessante já fale de imediato. “Ah, mas nem sei se vai dar namoro”. Entendo! Mas vamos pensar que essa “ficada” pode evoluir e a mensagem que a mentira deixa é que seu filho é motivo de vergonha, abrindo margem para sentimentos ruins. Tenho certeza que seu filho é seu orgulho, não poupe o mundo de saber disso!
  • PRIORIDADE: Ainda nessa fase pré-namoro, deixe claro que precisará de espaço, tempo e que a prioridade da sua vida é seu filho. Obviamente que essa prioridade é madura e necessária.
  • REALIDADE: Sabendo que muitas vezes a relação com a “outra parte” responsável pelo seu filho pode não ser boa, não esconda. Entender os entraves financeiros, judiciais, guarda e tudo mais pode ser um empecilho para o início de uma relação, mas certamente tornará essa relação muito mais saudável.

Namoro:

  • ORGANIZAÇÃO: Faça combinados sobre períodos de dedicação exclusiva a seus filhos. Isso fará com que o futuro padrasto ou madrasta aprenda a compartilhar, poupando um futuro casamento baseado em disputa.
  • TEMPO: Só insira as crianças nessa relação quando já estiver com um pouco mais de certeza que não é apenas um namorico. Isso poupará sofrimento de todos os lados no caso de término e mais que isso… impedirá que a boa relação entre eles não te obrigue a ficar em uma relação que você não vê futuro — por que sim, isso pode acontecer.
  • RELACIONAMENTO FAMILIAR: O namoro é um teste para uma vida juntos, porém entenda: os familiares desse novo companheiro (a) devem pelo menos respeitar seus filhos. Ainda que não sejam avós, tios biológicos a rejeição da família poderá trazer alguns problemas ao psicológico da criança e à relação de vocês. Ainda que estejam vocês contra o mundo, cuidado! Esse é um ponto a ser analisado antes de passar para a próxima fase.

Casamento:

  • RESPEITAR O TEMPO DA CRIANÇA: Não queira que de imediato a criança já aceite. É um processo. Porém é seu papel (pai ou mãe) conversar com seu filho lhe passando segurança e a certeza que ela não está sendo trocada. Importante também reforçar a essa criança a felicidade que essa relação vai trazer a você.
  • NÃO NEGOCIE: Não negocie afeto. “se você respeitar fulano vou te dar um brinquedo”… não! Você é o adulto (a) da situação e já escolheu com maturidade e responsabilidade seu companheiro. A criança precisa confiar nas suas escolhas.
  • PAPEIS: Determinar papeis e responsabilidades é importante principalmente no início. Ainda que esse novo cônjuge queira ser o pai ou mãe e que você mais do que ninguém queira que isso aconteça, não confunda as coisas.
  • NÃO SEJA MEDIADOR: Nada de ficar fazendo malabarismo para que a relação se estreite. A criança precisa construir a seu tempo suas relações. Nada de ficar sendo pombo correio de sentimentos: “fulano mandou dizer que te ama”. Uai, se ama ele precisa falar! Soará mais legítimo para a criança.
  • SE ATENTE AOS SINAIS: Olho aberto para todo e qualquer comportamento estranho de todas as partes envolvidas. Não negligencie recusa de troca de olhar, birras ou longo período de adaptação. A ajuda de um profissional da psicologia, nesse caso, pode ser importante.

Finalizo meu material da semana com uma frase que li em um livro da Ligia Werner: “Nem só os laços de sangue são verdadeiros e eternos”. Eu vivo isso no meu relacionamento e digo com todas as letras: valeu toda a paciência! Relações sólidas levam tempo, mas se tornam mais resistentes. Eu garanto!