INDÚSTRIA NO PARANÁ

Indústria paranaense lidera caminho da sustentabilidade e da inovação

O desempenho industrial do Paraná é acompanhado por uma evolução nas práticas ambientais adotadas pelo setor.

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Foto: Valeska Macedo/Massa.com.br

Imagine um mundo onde o ar é sempre puro, os rios já não sofrem com produtos químicos e os oceanos estão livres do lixo plástico. Hoje, esta utopia parece impossível, mas pode não ser no futuro.

A sustentabilidade, palavra que invadiu o noticiário e se tornou presença constante em discursos políticos, propagandas e até nas embalagens dos supermercados, é, na verdade, uma espécie de bússola para esse futuro possível.

No mundo todo, pessoas têm trocado sacolas plásticas por ecobags, escolhem produtos com menos embalagens e até fazem compostagem com o próprio lixo. Mas o conceito de sustentabilidade vai muito além das ações individuais: a ideia é repensar a forma como vivemos, consumimos e, principalmente, como produzimos. O desafio é fabricar tudo o que a sociedade precisa sem comprometer o futuro do planeta. Nessa busca, o papel da indústria é fundamental.

No Paraná, o setor industrial representa cerca de 28,5% do PIB estadual. Os dados são do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), que contabiliza aproximadamente 80 mil estabelecimentos, configurando o quarto maior parque industrial do Brasil.

Além de impulsionar a economia, gerando emprego e renda, o setor também tem assumido o papel de liderar a transição para modelos produtivos mais sustentáveis. 

O papel da indústria paranaense na transição verde

“A indústria é um dos principais motores da economia do Paraná. O estado possui o terceiro maior parque industrial do Brasil, com milhares de indústrias distribuídas em uma base diversificada. Até maio de 2025, a produção industrial estadual acumulou crescimento de 6,4% nos últimos 12 meses, quase o dobro da média nacional, que foi de 3,3%”, diz Marcelo Percicotti, gerente de Desenvolvimento Industrial e Social do Sistema Fiep.

O desempenho industrial do Paraná é acompanhado por uma evolução nas práticas ambientais adotadas pelo setor: pelo terceiro ano consecutivo, o estado lidera o ranking nacional em geração distribuída de energia renovável, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A matriz energética limpa, aliada a políticas públicas e inovação no setor privado fortalece iniciativas como logística reversa, economia circular e neutralização de carbono — muitas delas impulsionadas por empresas que fazem da sustentabilidade parte central da estratégia de negócio.

Para Nilo Cini Junior, coordenador do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Sistema Fiep, a indústria paranaense demonstra um compromisso crescente com práticas sustentáveis: “Os setores industriais vêm investindo em tecnologias limpas, eficiência energética, gestão hídrica e reaproveitamento de resíduos, alinhando produtividade com responsabilidade ambiental. A incorporação de critérios ESG (sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance – Ambiental, Social e Governança) nas decisões empresariais fortalece a competitividade do setor e reforça o compromisso com o desenvolvimento sustentável”.

Indústria do Paraná aposta em cadeia produtiva sustentável

Um exemplo dessa transformação é o Grupo Boticário, indústria fundada em Curitiba, que se tornou referência nacional e internacional em práticas industriais ambientalmente corretas.

Fundado em 1977, o Grupo Boticário começou como uma pequena farmácia de manipulação em Curitiba e, atualmente, a indústria fica em São José dos Pinhais, no Paraná. Hoje, é uma das maiores empresas de cosméticos do Brasil. Além de seu crescimento, a indústria paranaense investe em uma cadeia produtiva limpa e ética, com destaque para projetos em embalagens recicláveis, uso de energia renovável, logística reversa e redução de carbono.

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Unidade da Boticário em São José dos Pinhais. (Foto: Divulgação/Boticário)

Luis Meyer, diretor de ESG do Grupo Boticário, explica que a empresa adota práticas sustentáveis ao longo de toda a cadeia produtiva, desde a origem das matérias-primas até o descarte das embalagens, com políticas rigorosas de controle e rastreabilidade.

“Todos os fornecedores são obrigados a declarar a não utilização de ingredientes de origem animal e a ausência de testes em animais nos produtos finais. A rastreabilidade dos insumos é feita por meio de processos estruturados, como o Questionário Beauty Chain, programa que avalia os critérios ESG dos fornecedores e permitiu a ampliação dos parceiros comprometidos com a causa ambiental, e o programa CDP Supply Chain, iniciativa que avalia o impacto ambiental das cadeias de suprimentos e monitora impactos relacionados a mudanças climáticas, água e florestas”, afirma.

Além disso, são implementados processos específicos para verificar a procedência de matérias-primas consideradas críticas. “A companhia também estabelece metas públicas de sustentabilidade alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e acompanha as emissões de carbono em toda a cadeia, sendo que 98,9% dessas emissões estão no escopo 3 (emissões que acontecem fora das operações da empresa, mas que estão relacionadas às suas atividades)”, completa Meyer.

Em 2024, o Grupo Boticário reduziu 6% das emissões de carbono e estabeleceu a meta de redução de 17% até 2030. Todas as unidades utilizam 100% de energia proveniente de fontes renováveis.

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A gestão hídrica também é estratégica: as fábricas contam com estações de tratamento de efluentes e sistemas de reúso da água para regar jardins, abastecer torres de resfriamento e nas descargas dos banheiros. O objetivo é reaproveitar pelo menos 90% da água de reuso até 2030, além de reduzir continuamente o consumo por tonelada produzida.

Mais do que reduzir impactos, a companhia também trabalha para proteger o meio ambiente e apoiar comunidades. A Fundação Grupo Boticário, criada em 1990, é uma instituição sem fins lucrativos que atua na conservação da natureza e no bem-estar social. Hoje, ela se concentra na adaptação às mudanças climáticas, com ênfase na segurança hídrica.

Grupo Boticário consolida estratégia sustentável com foco em inovação e baixo carbono

A escolha por materiais recicláveis e de origem renovável nas embalagens é uma das principais frentes da empresa, com destaque para o uso de plástico verde, vidro reciclado e polímeros reaproveitados a partir de resíduos, como óleo de cozinha — o que permite a redução nas emissões de CO₂.

A indústria também conta com iniciativas circulares dentro de sua própria operação. “Em 2024, o projeto de reutilização de caixas e tampas entre fábricas, centros de distribuição e pontos de venda evitou a geração de 2.450 toneladas de resíduos”, reforça Meyer.

O Grupo Boticário também desenvolve embalagens com foco em reutilização, reciclagem ou biodegradabilidade — meta que deve atingir 90% dos novos produtos até 2030. “A companhia também aposta na refilagem (aproveitamento da embalagem regular com uso de refil), reduzindo significativamente o volume de resíduos”, destaca.

Entre as iniciativas de maior alcance direto com o consumidor, está o programa Boti Recicla. Desde 2006 a companhia opera o projeto, que oferece mais de 4 mil pontos de coleta de embalagens em todas as lojas próprias da marca. “O programa promove campanhas contínuas com benefícios e descontos para quem participa da iniciativa, estimulando hábitos mais conscientes no dia a dia”, diz Meyer.

Veridiane de Paula, de 37 anos, mudou seus hábitos após conhecer as iniciativas do Grupo Boticário, especialmente o programa Boti Recicla. Agora, ela coleciona embalagens vazias para levar aos pontos de coleta e incentiva amigos e familiares a fazerem o mesmo.

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Veridiane faz parte do programa Boti Recicla. (Foto: Valeska Macedo/Massa.com.br)

“Eu achava que reciclar era mais complicado, mas agora ficou fácil. Já convenci meus amigos e a minha família a participarem também. Saber que a empresa investe em sustentabilidade faz eu me sentir parte dessa mudança”, diz Veridiane.

Moradora de Curitiba e adepta da reciclagem incentivada pelo programa, Amanda Marochi, de 23 anos, afirma: “Sempre fui meio acumuladora de embalagens vazias, sabe? Tinha dó de jogar fora. Quando descobri o Boti Recicla, vi que podia dar um destino certo e ainda ganhar desconto. Gosto de saber que a marca se preocupa com o meio ambiente de verdade”.

O cuidado com o meio ambiente também se espalhou para a família: “Até convenci minha mãe a participar também. Agora ela sempre guarda as embalagens para reciclar comigo”, conta Amanda.

Iniciativas que refletem o compromisso da indústria paranaense com o meio ambiente

Além dessas estratégias, a empresa já colocou em prática uma série de iniciativas que reforçam seu compromisso com a sustentabilidade. Entre os principais resultados e metas que integram essa jornada, estão:

  • Inauguração da centésima loja no formato contêiner sustentável, feita com material reciclado;
  • Implantação de unidades feitas a partir de resíduos de difícil reciclagem, como tecidos e isopor, em 128 lojas;
  • Reciclagem de 96% dos resíduos gerados nas operações industriais e logísticas;
  • Disponibilização de produtos com refil;
  • Redução de mais de 1,3 mil toneladas no uso de papel em 2024 com a adoção de catálogos digitais para revendedores;
  • Definição da meta de ampliar o uso de energia renovável para 75% das lojas próprias até 2030;
  • Expansão de 85% no volume de embalagens coletadas e destinadas a cooperativas em 2024;
  • Compromisso com a meta de reciclar 95% dos resíduos industriais e logísticos e de destinar corretamente 45% das embalagens pós-consumo colocadas no mercado.

Aline Calefi Lima, gerente de Responsabilidade Social do Serviço Social da Indústria (Sesi) Paraná, afirma que a incorporação de critérios ESG é estratégica para o desenvolvimento industrial: “A adoção de práticas sustentáveis pelas indústrias locais gera impactos positivos diretos na economia e na sociedade. Empresas que integram critérios ESG à sua gestão tornam-se mais eficientes, inovadoras e resilientes, com maior capacidade de atrair investimentos, acessar novos mercados e participar de licitações públicas”.

Ainda conforme Aline, a aplicação de medidas sustentáveis reduz riscos ambientais e regulatórios, contribuindo para a longevidade e a reputação das organizações. “Sustentabilidade, portanto, deixou de ser um diferencial e se tornou uma estratégia essencial para o desenvolvimento industrial”, reforça.

A descarbonização e a agenda da sustentabilidade vêm se consolidando como motores de novos negócios e oportunidades para ganhos de eficiência. “A economia circular é um exemplo claro dessa tendência, ao possibilitar simbioses industriais em que os resíduos de uma empresa se tornam insumos para outra. Já o aumento da produtividade tem sido impulsionado pela adoção de novas ferramentas de produção”, destaca o gerente de Desenvolvimento Industrial e Social do Sistema Fiep, Marcelo Percicotti.

De acordo com a nova Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, divulgada em 8 de agosto, o setor industrial do Paraná se mantém entre os líderes de crescimento no país. Entre janeiro e junho de 2025, a produção industrial aumentou 5,2% no estado em relação ao mesmo período do ano passado, uma variação mais de quatro vezes superior à média nacional, que foi de 1,2%. O cenário vivido pela indústria paranaense mostra que é possível conciliar crescimento econômico com responsabilidade socioambiental.

Com a força das empresas locais, a aposta na sustentabilidade e o apoio das instituições, o estado segue firme na construção de um futuro mais verde, justo e competitivo.

“O Sistema Fiep defende que a incorporação de práticas sustentáveis nas indústrias seja conduzida com planejamento, segurança jurídica e de maneira técnica, assegurando que o desenvolvimento econômico e a responsabilidade ambiental caminhem de forma integrada. Neste sentido, a instituição atua na representação institucional e no apoio à construção de políticas públicas que conciliam desenvolvimento econômico, inovação e responsabilidade ambiental”, diz o coordenador do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Sistema Fiep, Nilo Cini Junior. 

Ao adotar essa postura, o Paraná reafirma seu papel de protagonista na construção de uma indústria mais sustentável, pronta para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do futuro.