INDÚSTRIA NO PARANÁ

O impacto da força estrangeira no crescimento industrial do Paraná

Trabalhadores estrangeiros conquistam espaço e impulsionam o desenvolvimento da indústria paranaense.

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Foto: Valeska Macedo/Massa.com.br

No Paraná, imigrantes, migrantes e refugiados conquistam cada vez mais espaço no mercado formal de trabalho. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o estado registrou 62.206 trabalhadores estrangeiros com emprego formal em 2024, um avanço de 37,9% em relação a 2023.

Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que, entre janeiro e junho de 2025, o Paraná gerou 94.219 novas vagas com carteira assinada. Com 21.610 oportunidades, a indústria paranaense foi responsável por grande parte do crescimento do emprego formal no estado, incluindo trabalhadores estrangeiros.

“Contratar pessoas migrantes e refugiadas traz uma série de benefícios tanto para o setor industrial do Paraná quanto para os próprios estrangeiros. Em primeiro lugar, a inclusão de migrantes no mercado de trabalho fortalece a economia local ao impulsionar o crescimento da região e diversificar a força de trabalho”, diz Aline Calefi Lima, gerente de responsabilidade social do Serviço Social da Indústria (Sesi) Paraná.

No setor de alimentação industrial, por exemplo, a contratação de colaboradores de outras nacionalidades segue em alta, trazendo qualificação e diversidade cultural. A inclusão ajuda as empresas a crescer no mercado e a reforçar seu compromisso com a diversidade.

“Oferecer empregos formais para migrantes é uma excelente maneira de integrá-los na sociedade. Os programas de integração de migrantes reforçam ainda as práticas de responsabilidade social das empresas. Ao contratar esse público, as indústrias demonstram compromisso com a inclusão e a igualdade de oportunidades, promovendo um mercado de trabalho mais justo e diversificado e fortalecendo sua reputação institucional”, reforça Aline.

Trabalhadores estrangeiros fortalecem o setor industrial paranaense

O Grupo Risotolândia, que iniciou sua história no Paraná em 1953, no bairro Xaxim, em Curitiba, se tornou referência no setor de alimentação industrial, destacando-se pela inovação e pela valorização da diversidade em seu quadro de funcionários.

Em 1980, com a abertura da unidade matriz em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, a empresa ampliou rapidamente a produção. Além do Paraná, a companhia atua em outros seis estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. 

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Unidade matriz, em Araucária. (Foto: Divulgação/Grupo Risotolândia)

Produzindo diariamente mais de 550 mil refeições, sendo 430 mil destinadas a escolas públicas e privadas, a empresa leva alimentação saudável a milhões de brasileiros, investindo também na valorização e no desenvolvimento dos colaboradores. O crescimento do Grupo Risotolândia também trouxe a abertura para diferentes culturas, com a contratação de trabalhadores estrangeiros.

“Atualmente, contamos com colaboradores de 10 nacionalidades diferentes, sendo a Venezuela e Cuba os países com maior representatividade em nosso quadro de profissionais […] Temos cerca de 160 colaboradores estrangeiros na empresa”, diz Kamille Fraga Dantas, diretora de gente e gestão da empresa.

Aproximadamente 80% dos colaboradores da indústria paranaense atuam na área operacional, onde se concentra a maior presença de profissionais estrangeiros. O Grupo Risotolândia também conta com representantes de outros países nas áreas administrativa e de gestão.

“A maior parte dos colaboradores estrangeiros comunica-se em espanhol. Para casos que demandem outros idiomas, como inglês ou francês, contamos com colaboradores bilíngues que oferecem suporte. Além disso, nossa Universidade Corporativa (um projeto totalmente on-line e gratuito para desenvolvimento profissional dos nossos colaboradores) disponibiliza conteúdos com tradução simultânea”, reforça Kamille.

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A diversidade cultural fortalece a inovação e a colaboração na empresa. “A presença de colaboradores estrangeiros enriquece significativamente nossa cultura organizacional, trazendo diversidade cultural, novas perspectivas e experiências que fortalecem o ambiente colaborativo e inovador. No desempenho, agregam valor com habilidades específicas e diferentes formas de pensar”, afirma Kamille.

Dados mais recentes do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostram que o Paraná segue entre os estados que mais admitem trabalhadores migrantes, ocupando posição de destaque junto a Santa Catarina e São Paulo nos três primeiros quadrimestres de 2024.

O papel dos colaboradores estrangeiros no avanço da indústria no Paraná

Luis Alejandro Peraza, de 34 anos, atua como Estoquista no setor frigorífico da indústria em Araucária, no Paraná. Natural da Venezuela, ele começou a trabalhar no Grupo Risotolândia em 2023: 

“Cheguei ao Brasil em 2022, vim sozinho. Meu pai, meu irmão, minha irmã e minha sobrinha permanecem lá [..] Passei uma semana me adaptando e ouvindo músicas em português. A viagem até Curitiba durou cinco dias, de ônibus”, diz.

Formado em Engenharia Mecânica, curso chamado de Manutenção Mecânica na Venezuela, Luis veio ao Paraná em busca de qualidade de vida. “Hoje estudo português, faço curso de logística, trabalho e pratico atividades físicas. Foi uma experiência nova, embora eu já tenha morado no Peru. A diferença é que o Brasil tem mais experiência na recepção de imigrantes”, conta.

Por indicação de um amigo venezuelano que já estava na empresa, Luis conseguiu a vaga no Grupo Risotolândia. “A integração foi tranquila […] Trabalhar com alimentos exige organização e cuidado, e isso é muito bem estruturado na empresa. Com o apoio da equipe, brasileiros e imigrantes, me adaptei rapidamente”, destaca.

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Luis trabalha no Grupo Risotolândia desde 2023. (Foto: Divulgação/Grupo Risotolândia)

A empresa integra o Programa Empresas com Refugiados, uma iniciativa da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em parceria com o Pacto Global — Rede Brasil. Além de Luis, o setor frigorífico conta com a presença de outros cinco trabalhadores venezuelanos.

“Todos estudamos e nos apoiamos mutuamente, incentivando o esforço e a dedicação, pois sabemos que a recompensa vem com o trabalho e o estudo […] Fora do trabalho, também criamos vínculos de amizade, compartilhando momentos de lazer. Inclusive churrascos, que aqui no Brasil são bem diferentes”, relata o venezuelano.

Para Luis, investir no desenvolvimento pessoal e profissional é fundamental. “Quero crescer na empresa, buscando oportunidades relacionadas às minhas formações, sempre evoluindo como profissional […] Todos os dias aprendo algo novo. É importante não ter medo, olhar para o futuro e investir no crescimento pessoal e profissional”, finaliza.

A trajetória de Luis representa a de muitos migrantes que encontram no setor industrial do Paraná uma porta de entrada para a integração social e profissional no Brasil.

Indústria paranaense abre caminho para trabalhadores estrangeiros

Segundo o Sistema de Registro Nacional Migratório (SISMIGRA), o Paraná é o quarto estado brasileiro que mais recebe migrantes, atrás apenas de São Paulo, Roraima e Santa Catarina. 

“Somente em 2024, 24.753 migrantes chegaram ao estado. Além disso, entre 2011 e 2024, o saldo acumulado de admissões de migrantes em empregos formais no Paraná foi de 61.308, o que representa 23% do saldo nacional no período”, afirma Aline, gerente de responsabilidade social do Sesi.

Dados do Ipardes apontam que, entre 2018 e 2022, o total de trabalhadores estrangeiros no estado passou de 19.605 para 37.703. Cerca de 38,8% desse contingente, de 14.627 pessoas, atuava na indústria paranaense.

De acordo com Aline, os números evidenciam que o Paraná, como uma das potências industriais do país, mantém uma participação relevante tanto na atração quanto na inserção laboral de migrantes e refugiados, com a indústria ocupando um papel central nesse processo.

O Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) conta com uma grande trajetória no tema da migração, fomentando a inclusão de pessoas migrantes e refugiadas no mercado de trabalho formal na indústria. Deste trabalho, surgiu o Programa Indústria Acolhedora: uma iniciativa pioneira no país em organizações empresariais. 

“Criado pelo Sistema Fiep e operacionalizado pelo Sesi Paraná, o programa procura responder a duas demandas relevantes no estado: a necessidade de mão de obra qualificada em um contexto de pleno emprego na indústria paranaense e a urgência de oferecer uma resposta humanitária e estruturada ao fluxo de pessoas em movimento, especialmente migrantes e refugiadas”, destaca Aline.

Para incentivar a inclusão de pessoas migrantes e refugiadas no mercado de trabalho paranaense, o programa também faz parcerias com organizações da sociedade civil — como a Cáritas, OIM e a Agência da ONU Para Refugiados (ACNUR) — para a realização de feiras de emprego, oficinas, entre outras ações de integração e apoio.

Em 2025, o Sesi Paraná percorreu por cidades do Paraná promovendo formações para equipes de recursos humanos sobre “Recrutamento e Comunicação Intercultural Inclusiva”: “O objetivo dos encontros foi inspirar as equipes a desenvolver soluções de empregabilidade, aprimorar habilidades de comunicação intercultural e promover melhores práticas de contratação”, conta Aline.

Os dados de crescimento do setor industrial no país evidenciam a solidez do setor produtivo paranaense, que mantém-se dinâmico. No recorte de 12 meses encerrado em abril, a produção industrial do Paraná avançou 5,6% — mais que o dobro da média brasileira, de 2,4%. No acumulado do ano, o estado também se destaca, com 5,3% de crescimento, frente a apenas 1,4% no cenário nacional.

Com indústria em expansão e iniciativas de inclusão consolidadas, o Paraná reforça seu papel como um dos estados que mais oferecem oportunidades de emprego formal para pessoas estrangeiras, unindo desenvolvimento econômico e diversidade cultural.