Fofocas

Um Molière levado ao extremo no Festival de Curitiba

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Foto: Divulgação/Dalton Valério

Como montar uma das maiores comédias de todos os tempos? Os cariocas da Companhia Teatro Esplendor escolheram ser extremamente originais e subverter quase tudo. O resultado é que depois de nove meses de trabalho intenso, a livre adaptação de “O Tartufo”, a peça clássica do francês Molière, se transformou em uma obra expressionista, sombriamente estilizada, de ações carregadas e que, como num filme de Charles Chaplin, diz tudo sem dizer uma única palavra. O espetáculo, que em 2018 foi indicado aos prêmios Shell de Inovação, Melhor Figurino e Melhor Iluminação, chega agora à Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba, com sessões nos dias 4 e 5 de abril, no Guairinha.

“Foi muito natural. Chegou um momento em que percebemos que as ações dos personagens falavam por si, estavam interessantes, loucas, uma coisa inédita. Era algo diferente. A gente não precisava dizer mais nada”, conta a atriz Yasmin Gomlevsky, que interpreta o personagem principal, o tartufo do título, um trambiqueiro profissional que usa a religião para se infiltrar em uma família, instalar o caos e saquear qualquer coisa em que puder colocar as mãos.

“O Molière está ali, a gente partiu do texto dele”, garante o diretor Bruce Gomlevsky. “Mas esse texto virou um pretexto, digamos assim. Até por isso, o título da nossa peça é ‘Um Tartufo’. É um entre tantos. É o nosso Tartufo.”

Para os integrantes da Companhia Esplendor, hoje a TV, o cinema e os catálogos dos serviços de streaming já dão conta de reproduzir, em suas obras, o realismo do mundo. Até por isso, eles queriam ir além. “É uma questão mesmo de colocar uma lupa, uma lente de aumento sobre as emoções humanas”, define Gustavo Damasceno, que no palco faz o papel de Orgonte, o pai de família praticamente abduzido por Tartufo, incapaz de ouvir os reiterados avisos daqueles que o cercam sobre a catástrofe que se avizinha.

Retiradas as palavras, sobrou espaço para a invenção. Dessa forma, a cena que no enredo original era uma grande discussão entre Orgonte e seu cunhado, Cleanto, sobre moral, ideologia e religião, na nova versão foi resolvida com um duelo de capoeira.

Já outra passagem, em que o impostor tenta seduzir Elmira, esposa de Orgonte, agora é levada às raias da barbárie, com uma encenação de abuso sexual. Tudo fica ainda mais marcante por conta da trilha sonora do compositor esloveno Borut Krzisnik.

Quando escreveu “O Tartufo”, no século 17, Molière foi censurado pela Igreja e pelo então rei da França, Luís XIV. O dramaturgo precisou retrabalhar o texto e deixar o final mais ameno. O primeiro rascunho se perdeu no tempo, mas a Companhia Esplendor recupera essa ideia e conclui o espetáculo de uma maneira bem menos feliz do que aquela que se popularizou, dando vazão a toda a tragédia em potencial.

“É um tema universal, esse da hipocrisia, da falsa moralidade, da imposição autoritária. O mundo nunca deixou de ter isso”, considera Yasmin Gomlevsky. “Eles ainda estão por aí, os tartufos.” Quem avisa, amigo é.

Programação do Festival de Curitiba

“Um Tartufo” faz parte da programação da Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba, que é apresentada por Banco CNH Industrial e New Holland, Bosch, Novozymes, Copel e Sanepar – Governo do Estado do Paraná, com patrocínio de EBANX, DaMagrinha 100% Integral, GRASP e ClearCorrect.

Todas as novidades e informações estão disponíveis no site oficial do Festival de Curitiba, pelas redes sociais disponíveis no Facebook, pelo Instagram e pelo Twitter. Ingressos disponíveis pelo site oficial e na bilheteria física no Shopping Mueller (Piso L3).

Serviço: Um Tartufo

  • Mostra Lucia Camargo – Festival de Curitiba
  • Data e Horário: 4 e 5 de abril às 20h30.
  • Local: Guairinha (Rua XV de Novembro, 971 – Centro)
  • Classificação: 14
  • Duração: 96′
  • Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e no Shopping Mueller (Piso L3)
  • Valores: R$ 80 e R$ 40 (meia)