O amor está no ar
NATAL EM SERVIÇO
Profissionais de diferentes áreas mantêm serviços ativos no Natal em Curitiba e região
Enquanto a maioria das famílias se reúne ao redor da mesa, troca abraços e espera a meia-noite chegar, há quem viva o Natal de outra forma. Em Curitiba e na Região Metropolitana, a noite de 24 de dezembro e o dia 25 também são sinônimo de trabalho para diversas pessoas.
Motoristas, profissionais da saúde, trabalhadores do comércio, artistas e cuidadores de animais seguem em atividade para garantir serviços, atendimento e apoio justamente nos dias mais simbólicos do ano, muitas vezes longe das próprias famílias.
Milene Dias, de 44 anos, atua no teatro desde a adolescência e atualmente trabalha em eventos fantasiada de palhaça-duende. Ao longo da carreira, participou de festivais, cursos de diferentes países, apresentou peças no Brasil e no exterior, ministrou oficinas de teatro, circo e palhaçaria e realizou atividades por 15 anos em hospitais de Curitiba.
Há um ano, Milene passou a trabalhar em eventos ao lado do namorado. Este será o segundo ano em que ela atua nos dias 24 e 25 de dezembro, com apresentações em casas de famílias de Curitiba e da Região Metropolitana.
“Foi uma descoberta incrível este trabalho, pois a data já havia perdido o sentido para mim e assim, vendo a alegria das crianças e adultos que celebraram o Natal com tanta alegria, redescobri minha própria alegria do Natal”, diz.
Fantasiada de palhaça-duende, ela participa de visitas que duram de 30 a 40 minutos, com música, contação de histórias, brincadeiras e entrega de presentes, acompanhada do namorado e de um Papai Noel. Após cumprir a agenda, Milene passa a noite do dia 25 com os filhos e demais familiares: “O meu Natal, após tantas coisas que aconteceram na minha vida, voltou a fazer sentido e ser uma data mágica”, finaliza.
Ana Paula Dias de Godoy, de 38 anos, trabalha com hospedagem de pets desde dezembro de 2016. O espaço fica em Colombo, no bairro Campo Pequeno, na divisa com o bairro Santa Cândida, em Curitiba. Apaixonada por animais, ela tem quatro cães e cinco gatos e já atuou em pet shop antes de iniciar o serviço.
No período de festas, a rotina muda significativamente. A demanda aumenta porque muitas famílias viajam e procuram um local seguro para deixar os animais. Nos dias 24 e 25 de dezembro, ela recebe, em média, 15 animais.
Entre os principais desafios estão os horários de alimentação, que exigem a separação dos pets para evitar conflitos. “Alguns comem mais rápido e tentam roubar a ração dos aumiguinhos”, relata. Outro momento de atenção é a queima de fogos, já que alguns animais demonstram medo e precisam de acompanhamento mais próximo. Por isso, o pedido mais comum dos tutores nessa época é atenção redobrada e monitoramento constante das brincadeiras.
Trabalhar no Natal tem impacto emocional. Ana Paula afirma que a data é simbólica para ela, inclusive por ser o aniversário do pai, que mora no interior de São Paulo. Desde que começou a trabalhar com hospedagem, não consegue mais passar o Natal com a família.
Ainda assim, ela celebra a data em casa, com o marido, que ajuda nos cuidados com os animais: “O fato das hospedagens serem em minha residência me permite fazer a ceia de Natal […] Meu companheiro faz o possível para amenizar a tristeza da ausência dos meus familiares, principalmente nessas datas festivas”, conta.
Jefferson Nassar Souza, de 38 anos, atua na área da saúde há cerca de 15 anos. Formado em enfermagem, trabalha na profissão há oito anos e atualmente é enfermeiro no Hospital Sugisawa, em Curitiba. Antes de atuar diretamente na assistência hospitalar, passou por áreas administrativas e pela farmácia hospitalar.
Segundo Jefferson, a escolha pela enfermagem veio do desejo de ajudar o próximo e de oferecer um atendimento mais humano aos pacientes. Ele destaca que, muitas vezes, os próprios profissionais de saúde também se tornam pacientes, o que reforça a importância da empatia no cuidado. Além da atuação no hospital, Jefferson também trabalha com preceptoria na graduação em enfermagem, acompanhando a formação de novos profissionais.
No Natal, o movimento no hospital tende a diminuir, mas as equipes permanecem completas, com exceção das escalas de folga. De acordo com ele, o feriado não altera a responsabilidade do atendimento. “É um dia em que precisamos estar de plantão e prontos para atender. Estudamos para estar aqui”, afirma. Jefferson diz que já está acostumado a trabalhar no Natal e que exerce a profissão com satisfação.
Para o enfermeiro, datas comemorativas reforçam o compromisso da enfermagem, já que os profissionais de saúde permanecem de prontidão para atender quem precisa, independentemente do momento. Geralmente, Jefferson celebra o Natal com a família no dia seguinte, em um almoço após o plantão.
Clésio Madeira de Mello, de 41 anos, trabalha como motorista de ônibus em Curitiba há quase 14 anos. Ele chegou à capital paranaense ainda criança, aos oito anos, acompanhado dos pais, e diz que o interesse pela profissão surgiu cedo. Antes de atuar no transporte coletivo urbano, trabalhou com caminhões e ônibus de turismo. “Sempre gostei de ônibus, então faço o que eu gosto”, afirma.
Nos dias 24 e 25 de dezembro, a rotina muda. Segundo Clésio, a operação funciona com tabela reduzida, o que diminui o número de passageiros e deixa o trânsito mais tranquilo. “Tem ano que a gente trabalha no Natal e tem ano que não. Acaba virando algo rotineiro”, explica.
Clésio diz que, embora quisesse passar mais tempo com a família, trabalhar no Natal já faz parte da rotina profissional. Quando o turno é pela manhã, como das 4h às 10h, a comemoração natalina acontece depois do expediente.
Já a ceia do dia 24 costuma ser antecipada, já que é preciso dormir cedo para trabalhar no dia seguinte. Em alguns anos, os turnos acabam sendo mais longos. Além disso, durante os plantões de Natal, passageiros costumam surpreendê-lo com gestos de gentileza, como lanches e panetones.
Quando trabalha até a meia-noite do dia 24, Clésio costuma chegar em casa por volta da 1h da manhã e faz uma ceia simples antes de descansar. No caso de quem trabalha nos dois dias, a escala geralmente permite folga ao longo do dia 25, com retorno apenas no período da noite, o que possibilita um tempo maior para comemorar com a família.
Em comum, todas as histórias mostram que, mesmo em uma data marcada por celebrações e encontros familiares, há profissionais que seguem em atividade para garantir serviços essenciais e atender às necessidades da população. No Natal, o trabalho dessas pessoas mantém a cidade funcionando e revela diferentes formas de viver a data, conciliando responsabilidade profissional e momentos de celebração sempre que possível.
Seja no transporte coletivo, na saúde, nos cuidados com animais ou na realização de eventos, os profissionais mostram que o Natal também é vivido por quem está em serviço. Entre escalas, plantões e agendas cheias, cada história revela escolhas e rotinas que ajudam a sustentar a cidade mesmo nos dias de festa.
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