Segurança

CONSOLIDA- Governo entrega MP de privatização da Eletrobras

Logo da Eletrobras em tela na bolsa de valores de Nova York, EUA
Logo da Eletrobras em tela na bolsa de valores de Nova York, EUA

Por Lisandra Paraguassu e Luciano Costa

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) – O governo do presidente Jair Bolsonaro entregou na noite desta terça-feira uma medida provisória associada a seus planos de privatização da elétrica federal Eletrobras.

A MP permite que o BNDES inicie estudos sobre a desestatização da companhia e foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União, em linha com a expectativa informada antes por fontes que falaram à Reuters na condição de anonimato.

A análise será focada na desestatização da Eletrobras e de suas subsidiárias, com exceção da Eletronuclear e da Itaipu Binacional.

As ações da Eletrobras, que operavam em alta de 2,4% no início da tarde, aceleraram ganhos e chegaram a saltar cerca de 12% após a publicação da reportagem da Reuters. No fim do pregão, os papéis ON da companhia fecharam com avanço de 13,01%.

Em comunicado ao mercado, a Eletrobras confirmou o recebimento de um ofício anexo do Ministério de Minas e Energia (MME) que informa sobre a edição de medida provisória para tratar do processo de privatização.

Em ato simbólico, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou na noite desta terça-feira que a MP constará na pauta do plenário da Casa na próxima semana, após ele e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), terem recebido o texto das mãos do presidente Jair Bolsonaro.

O ministro da pasta, Bento Albuquerque, disse em 8 de fevereiro que o governo estudava editar uma MP sobre a privatização da Eletrobras.

A intenção do governo com a medida, além de iniciar o processo, é “dar um sinal” ao mercado sobre o compromisso de Bolsonaro com a privatização, disse uma fonte sob anonimato.

MP

Com a medida, o BNDES poderá contratar serviços técnicos especializados necessários ao processo de desestatização, que se dará mediante aumento do capital social da Eletrobras por subscrição pública de ações ordinária sem que a União adquira novas ações, passando assim à condição de sócia minoritária da empresa, afirmou a assessoria da Presidência em comunicado.

“Essa operação garantirá a injeção de recursos privados na companhia para que ela possa realizar investimentos necessários para a sociedade brasileira. Porém, a efetiva desestatização da Eletrobras ao final do processo dependerá do aval do Congresso Nacional, mediante a conversão da Medida Provisória em lei.”

Caso concluída a desestatização, a medida autoriza a celebração de novos contratos de concessão de geração de energia sob titularidade direta ou indireta da Eletrobras, pelo prazo de trinta anos. Esses novos contratos deverão adotar o regime de exploração de produção independente, considerado mais eficiente que o modelo de cotas.

O risco hidrológico será assumido pela concessionária. Além disso, a empresa será obrigada a realizar investimentos significativos para a revitalização do rio São Francisco e das bacias que servem às usinas de Furnas, bem como investimentos para reduzir estruturalmente os custos de produção de energia na região Norte.

Para respeitar o monopólio constitucional de geração de energia nuclear e o tratado internacional de constituição de Itaipu Binacional, a MP contém ainda medidas para que o controle da Eletronuclear e a participação da Eletrobras na Itaipu Binacional permaneçam sob controle direto ou indireto da União.

VAI E VOLTA

A MP marca uma mudança frente a plano anterior do governo de apostar todas fichas em um projeto de lei para a desestatização.

As informações sobre a preparação para publicação da MP vêm após notícias recentes que geraram preocupação entre investidores quanto à viabilidade política da transação.

Os novos presidente da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, sinalizaram, antes de serem eleitos em 1° de fevereiro, que a privatização da Eletrobras não seria uma prioridade para o Congresso em suas gestões.

Isso levou o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., a anunciar que deixará a companhia em meados de março para assumir o comando da BR Distribuidora. Ferreira disse que a decisão veio após notar “falta de tração” da desestatização junto aos parlamentares.

Nos últimos dias, a indicação por Bolsonaro do general da reserva Joaquim Silva e Luna ao cargo de CEO da Petrobras e uma afirmação do presidente no sábado de que o governo vai “meter o dedo” no setor elétrico tinham ajudado a reduzir expectativas no mercado quanto à privatização.

Após a declaração de Bolsonaro, nesta terça-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) disse que tem avaliado formas de aliviar impactos para o consumidor, em meio a expectativas de forte alta nas tarifas de energia neste ano, com um dos diretores defendendo a criação de um fundo de estabilização setorial.

A proposta de desestatização da Eletrobras veio à tona primeiramente em 2017, na administração anterior, do ex-presidente Michel Temer, mas acabou não avançando no Congresso.

O governo Bolsonaro retomou a proposta e apresentou um projeto de lei sobre a desestatização ao Congresso no final de 2019, mas a matéria sequer teve relator definido até o momento.

(Com reportagem adicional de Maria Carolina Marcello em Brasília e Nayara Figueiredo em São Paulo)

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH1M12A-VIEWIMAGE