Saúde

Câncer: diagnóstico e tratamento foram prejudicados na pandemia

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Reprodução/Pixabay

A pandemia de covid-19 colocou o mundo em alerta para um vírus desconhecido e extremamente transmissível. Com os esforços direcionados para conter as infecções pelo SARS-CoV-2, no entanto, outras doenças graves, como o câncer, acabaram ficando em segundo plano.

Estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta para 625 mil novos casos no triênio 2020-2022. O câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). 

Segundo o vice-presidente do instituto, Dr. Gélcio Mendes, desde março de 2020, houve uma queda profunda na realização dos exames preventivos. O exame de “papanicolau”, realizado como prevenção ao câncer do colo do útero, por exemplo, teve queda de quase 20% em relação aos anos anteriores. As mamografias também sofreram queda de mais de 50%. 

“Nesse período [de pandemia], nós tivemos efetivamente uma queda no número de pessoas que procuravam as unidades básicas para os exames de diagnóstico”, afirma. “É um cenário complexo, mas de fato com muito prejuízo para a identificação do câncer, e afetou tanto o sistema público, quanto o sistema privado. A questão é que no sistema privado, normalmente, há uma capacidade maior de reação”, acrescenta. 

Da mesma forma, o número de cirurgias também diminuiu: “A cirurgia oncológica que não é feita hoje, daqui a dois ou três meses talvez já não seja mais possível ser feita. Esse é o lado muito ruim da história, é uma doença que tem caráter evolutivo”. 

O médico explica ainda que, logo no início da pandemia, boa parte da força de trabalho que atuava nas unidades básicas acabou sendo desviada para o enfrentamento à covid e os postos de saúde começaram a ser direcionados para a vacinação. 

“Outro aspecto observado nos picos da pandemia, em especial nos momentos de lockdown, é que os consultórios médicos também ficaram vazios, ou seja, aquela consulta rotineira acabou sendo postergada”, afirma. 

Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), 74% dos oncologistas observaram interrupção do tratamento de câncer em 2020, primeiro ano do período pandêmico. Em relação aos procedimentos, as cirurgias enfrentaram maior dificuldade de serem conduzidas, segundo 67% dos participantes da pesquisa. 
 
Além disso, para 22,5% dos oncologistas, os exames de seguimento também encararam desafios e menos de 1% dos entrevistados afirmaram que nenhum procedimento sofreu consequências.
 
“Em 2022, a luta vai ser para tentar fazer aqueles diagnósticos que não foram feitos, em especial nesses últimos meses. Os prejuízos que vêm disso são ou pacientes com menor chance de cura ou que vão demandar tratamentos mais agressivos. Do ponto de vista do sistema, tratamentos mais complexos, mais caros e que demandam mais estrutura”, explica Mendes. 
 
O médico reforça a importância de dar atenção aos sinais do corpo. “Se você está sentindo alguma coisa diferente, seja um sangramento, o surgimento de algum nódulo ou dor, não guarde para si. Procure um médico”, ressalta. “Essa pandemia veio mostrar para nós a importância do sistema de saúde, da atenção básica e do SUS para o nosso país”, completa. 

Informações de SBT News