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Saúde
A cirurgia bariátrica é a melhor escolha para prevenir doenças e garantir maior qualidade de vida.
Aos 21 anos, Gabriel Ortiz chegou a pesar 174 quilos e convivia com hipertensão, apneia do sono e dores no corpo. A cirurgia bariátrica, realizada há um ano, trouxe grandes mudanças para a vida do jovem: ele perdeu 74 quilos e pratica atividades físicas com mais facilidade. “Eu sabia que minha situação era bem complicada, mas quem me abriu os olhos de verdade foi minha mãe. Dá pra dizer que ela salvou minha vida”, diz.
Casos semelhantes têm se tornado cada vez mais comuns entre brasileiros com menos de 30 anos. Em 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 6.393 cirurgias bariátricas entre janeiro e junho, segundo o Datasus. Pelos planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) destaca que já foram feitos 260.380 procedimentos até 2024, além de 13.964 cirurgias entre janeiro e maio de 2025.
O Paraná registrou um aumento significativo no número de cirurgias bariátricas realizadas nos últimos anos. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde do Paraná (Sesa), foram 1.563 procedimentos em 2022, número que subiu para 1.884 em 2023 e alcançou 2.093 em 2024. Apenas entre janeiro e maio de 2025, já foram contabilizados 988 procedimentos deste tipo.
Os números também mostram que a cirurgia bariátrica é cada vez mais comum entre pessoas mais jovens. Para análise deste público, a Sesa divide os pacientes em duas categorias: 15 a 24 anos e 25 a 34 anos.
Em 2022, 596 jovens de 15 a 34 anos realizaram a cirurgia bariátrica no Paraná. O número subiu para 714 em 2023 e chegou a 849 em 2024, um crescimento de 42% em dois anos. Só no primeiro semestre de 2025 já são 408 procedimentos, o que indica que o total pode superar novamente o ano anterior.
Ano | 15-24 anos | 25-34 anos | Total (15-34 anos) |
---|---|---|---|
2022 | 115 | 475 | 590 |
2023 | 120 | 594 | 714 |
2024 | 131 | 718 | 849 |
2025 (jan-maio) | 74 | 333 | 407 |
A presença de adolescentes e jovens adultos (15 a 24 anos) é predominante entre os pacientes jovens submetidos à cirurgia: foram 115 pacientes nessa faixa etária em 2022, número que chegou a 131 em 2024.
“Os motivos que levam os jovens à cirurgia são muitos. Vão desde questões de saúde à estética. Ou seja, é um impacto enorme na qualidade de vida, bem-estar, na saúde física e mental”, afirma José Alfredo Sadowski, cirurgião bariátrico e 2° secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
Em abril deste ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) estabeleceu novas regras que ampliaram o acesso à cirurgia bariátrica para pacientes mais jovens. “A resolução ampliou a elegibilidade comorbídica para Índice de Massa Corporal (IMC) 30–35, reconheceu cirurgia a partir dos 14 anos em casos de obesidade grave com complicações e removeu exigências antigas (como idade mínima de 30 anos) para cirurgia metabólica”, destaca o 2° secretário da SBCBM.
Os números do Paraná mostram que os jovens estão buscando a cirurgia bariátrica mais cedo. O procedimento é a melhor escolha para prevenir doenças e garantir maior qualidade de vida.
“A obesidade infantil e juvenil tem alta probabilidade de persistir na vida adulta, o que torna o tratamento precoce essencial para prevenir problemas de saúde a longo prazo. A cirurgia pode reduzir a mortalidade por todas as causas”, relata o cirurgião bariátrico.
Por trás das estatísticas, há decisões que mudam vidas. Gabriel Ortiz, de 22 anos, é um dos jovens que encontrou na cirurgia bariátrica um caminho para a saúde. Desde criança, ele já havia tentado diversas dietas e buscado acompanhamento com endocrinologistas e nutricionistas, mas nenhum método trouxe resultados duradouros.
“Depois da pandemia, quando voltei a engordar, vi que não tinha outra solução. Achei que seria vergonhoso, mas ao longo do processo percebi que essa foi a melhor escolha da minha vida”, conta.
Gabriel fez o procedimento através de seu plano de saúde, passando dois anos em diversas consultas e realizando todos os exames necessários. A cirurgia, realizada em 12 de julho de 2024, trouxe desafios no pós-operatório, especialmente durante o primeiro mês de recuperação. Mas, aos poucos, a vida do jovem começou a mudar.
Hoje, Gabriel está com 100 quilos. A saúde dele melhorou significativamente: parou de tomar remédios para pressão, dorme melhor e os exames de sangue estão normalizados. Atividades físicas, antes difíceis, agora fazem parte da rotina, e ele se sente mais à vontade para sair com amigos e a família. “A autoestima subiu muito também, é legal usar roupas diversificadas e não só ‘as que cabem’”, relata.
A relação com a comida também mudou. Atualmente, Gabriel se alimenta de forma equilibrada e não enfrenta restrições severas, mas evita exageros. Para ele, a cirurgia bariátrica não é um ponto final, mas o início de uma nova fase: “Você deixa para trás um grande peso, literalmente, e recomeça a vida com mais saúde e vitalidade. Eu não tenho nenhum arrependimento e agradeço por ter feito essa escolha”, finaliza.
Além do impacto no peso, o procedimento traz benefícios importantes para a saúde e a qualidade de vida. De acordo com o cirurgião bariátrico João Caetano Marchesini, ex-presidente da SBCBM, o procedimento é o método mais eficaz e duradouro no tratamento da obesidade e suas comorbidades.
“Há uma remissão (desaparecimento) do diabetes em 70 a 80% dos casos, da hipertensão arterial e dislipidemia entre 60 a 70%, melhora expressiva na mobilidade e 90% da remissão da apneia do sono. Além do impacto psicológico, com melhora importante da autoestima e redução dos casos de depressão metabólica”, destaca.
O cirurgião bariátrico, que atua no Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba, afirma que o procedimento pode levar, em média, uma hora e meia. “O paciente permanece cerca de um dia e meio internado. As cirurgias são realizadas por pequenos orifícios na parede abdominal, com acesso direto pelo cirurgião ou por meio de plataforma robótica. As técnicas incluem a remoção parcial do estômago ou a redução combinada com desvio intestinal”, diz.
Entre os pacientes atendidos pelo cirurgião bariátrico, destacam-se histórias de transformação, como a de João Matheus Joaquim, de 29 anos. “A luta contra a obesidade fez parte da minha vida desde meus 18 anos, até antes, talvez. A ideia de fazer a cirurgia aconteceu cinco anos atrás”, conta.
Aos 26 anos, João Matheus chegou a 156 quilos e apresentava problemas de saúde associados ao excesso de peso, como pressão alta, gordura no fígado em estágio 2, unhas encravadas, dores nos tornozelos e joelhos, além de ansiedade e depressão.
“A virada de chave foi quando eu percebi que, mesmo tentando e mantendo uma rotina regular, a obesidade já tinha se tornado uma doença mais séria. Com os problemas de saúde aumentando, decidi que era o momento exato para começar o processo de mudança de vida. O processo foi tranquilo, através do plano de saúde”, lembra João.
Em 11 de novembro de 2024, ele realizou a cirurgia bariátrica. O processo envolveu seis meses de consultas, exames e suporte de uma equipe multidisciplinar, que inclui nutricionista, psicólogo, psiquiatra e fisioterapeuta. Nos três primeiros meses pós-cirurgia, ele perdeu 30 quilos. A redução continuou e atualmente João pesa 110 quilos, uma perda total de 46 quilos desde seu peso máximo.
João relata que sua rotina, relação com a alimentação e disposição para atividades físicas mudaram completamente: “Consigo dormir melhor, correr e fazer exercícios sem cansar rapidamente. Hoje consigo me ver no espelho e ficar bem, não só espelho, mas qualquer lugar que aparece meu reflexo”, diz.
Conforme destaca a psicóloga bariátrica Gleice Russiano, a transformação envolve corpo e mente. “As vantagens em realizar a cirurgia são inúmeras. Vão desde a melhora da expectativa de vida, até a remissão de doenças preexistentes que comprometem a vida da pessoa. Como consequência, a pessoa se sentirá mais disposta, feliz e com a autoestima melhorada “.
Bernardo Ribas Reginato Grycajuk, de 27 anos, empresário e dentista, realizou sua cirurgia bariátrica aos 17 anos. Na época, pesava 130 kg e vivia limitado pelo cansaço e pela indisposição que afetavam todas as suas atividades.
Sedentário, Bernardo percebeu que precisava mudar quando seu pai foi diagnosticado com diabetes e veio a falecer. “Foi aí que entendi que o problema ia muito além da minha autoestima”, lembra.
Após a cirurgia, em junho de 2016, a rotina de Bernardo mudou radicalmente. Ele perdeu 70 quilos e descobriu uma disposição que transformou seu dia a dia. “Minha vida mudou. Hoje, eu como para viver, não vivo para comer”, conta. Atualmente, ele consegue praticar esportes, aproveitar momentos ao ar livre e se sentir confiante ao escolher suas roupas.
Gleice Russiano, psicóloga bariátrica, detalha os benefícios do procedimento. “A cirurgia proporciona melhora da autoestima, autoimagem e na saúde física. Além disso, aumenta a expectativa de vida. As comorbidades associadas melhoram de forma significativa, bem como a rotina é impactada de forma positiva”.
Bernardo reforça que a bariátrica não foi apenas o fim da compulsão alimentar, mas também a melhor escolha. “A beleza vai além das medidas. Minha autoestima está nos meus movimentos, nos prazeres da vida e nos momentos que, se eu ainda estivesse com 130 kg, não seriam aproveitados da mesma forma”, reflete.
A psicóloga afirma, ainda, que o procedimento é um instrumento de grande transformação quando já se esgotaram outras alternativas. “Quando falamos em bariátrica, estamos falando de uma intervenção cirúrgica que muda a vida e a rotina do paciente por completo. É necessário que a pessoa se envolva de fato no processo e tenha persistência para que as mudanças dos hábitos possam ser levadas para toda a vida”, finaliza.
Em contrapartida ao aumento de cirurgias bariátricas realizadas no Paraná, um levantamento da SBCBM aponta que, em 2025, quase 40% dos adultos acompanhados pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) apresentam algum grau de obesidade.
Ao todo, foram avaliados 1.072.889 adultos no Paraná. Entre eles, 33,7% estão com sobrepeso, 23,5% com obesidade grau I (IMC de 30,00 a 34,99 kg/m²), 10,3% com obesidade grau II (IMC de 35,00 a 39,99 kg/m²) e 5,5% com obesidade grau III (IMC de 40,00 kg/m² ou mais). Somados, os grupos representam mais de 73% dos adultos com excesso de peso. Apenas 25,4% da população está dentro do índice considerado adequado ou eutrófico, e 1,6% está em baixo peso.
No Paraná, o excesso de peso vai além dos números: envolve anos de cuidado médico e gastos significativos. “Anos de comorbidades podem trazer altos custos de tratamento. Além disso, o paciente pode chegar a gastar mais de R$ 40 mil por ano com canetas emagrecedoras ou outros medicamentos, por exemplo. A cirurgia bariátrica é mais econômica que as demais alternativas e traz resultados duradouros e eficazes”, ressalta José Alfredo Sadowski, 2° secretário da SBCBM.
O cenário paranaense acompanha a média nacional. No Brasil, o Sisvan aponta que 34,3% dos adultos têm sobrepeso, enquanto no Paraná o índice é semelhante (33,7%). Porém, o estado tem proporção ligeiramente maior de obesidade grau II (10,3%, contra 9,4% no país) e grau III (5,5%, contra 5,0% no Brasil).
Diante do avanço da obesidade, a cirurgia bariátrica surge como a melhor escolha e a alternativa mais eficaz, alcançando resultados até cinco vezes superiores aos de medicamentos injetáveis. Mais do que um tratamento, o procedimento representa a chance de recuperar a saúde, a qualidade de vida e prevenir doenças associadas.
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